quinta-feira, 21 novembro 2024

Brasil, a seleção do contra-ataque e de protagonistas precoces

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Tudo que a seleção brasileira quer é um time que venha para cima, dê espaços nas costas e permita que o time jogue verticalmente em velocidade alucinante. Oscar, Lucas, Neymar, são todos jogadores de muita velocidade, habilidade e gostam de jogar de forma direta. Passes tranquilos, pacientes e incessantes, como a Espanha, não são o estilo de jogo que o Brasil desenvolveu nos últimos anos. Também não é o estilo de jogador que surgiu no Brasil. E esse é o problema: em um jogo como esse contra a Rússia, que o contra-ataque não foi uma opção, não há nenhuma alternativa de jogo. E o Brasil sofreu.

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O time de Dunga era assim. E uma das críticas era justamente que o time não sabia o que fazer caso o adversário tirasse seu espaço para contra-atacar. Tanto que, tal como um Robin Hood, perdia pontos contra times como Bolívia, Colômbia e Paraguai, mesmo jogando em casa, mas arrancava vitórias espetaculares contra gigantes como Argentina e Itália. Chegou ao ponto de jogar mal e golear – foi assim em alguns jogos na Copa América de 2007. E, por pouco, não conseguiu uma campanha grande na Copa de 2010. Fez um grande primeiro tempo contra a Holanda, dominou o jogo e deu a entender que ganharia com autoridade. Tomou um gol, se desesperou e foi derrotado pelos seus piores defeitos: a falta de alternativa ao seu estilo de jogo, falta de um banco de reservas qualificado (Kléberson e Grafite esperavam para entrar…) e o destempero de Felipe Melo, ótimo jogador, mas que mostrava não conseguir se controlar em uma situação limite – basicamente, a essência de jogos eliminatórios na Copa.

O time de Felipão deve ganhar mais corpo até a Copa e ficar mais parecido com o time de Dunga. Só que desta vez o tempo de trabalho é bem menor – um ano e meio e poucos jogos. É possível que Felipão consiga tornar o time mais forte com um pouco mais de treino. Apesar de tudo, é um técnico que sabe fazer bem o arroz com feijão e é o que tem mostrado nesses jogos ao usar um 4-4-2 à inglesa, com duas linhas de quatro e tentando uma compactação. Um sistema de jogo que tem tudo para dar certo, mas precisará de muita insistência.

Quando Mano Menezes foi demitido e Felipão foi contratado, o que se espera não é um time que encante, que se imponha com dominância técnica, que jogue um futebol mágico, o “jogo bonito”. Não é a característica de Felipão e ele não tem Rivaldo e Ronaldo desta vez para se apoiar e decidir jogos, como em 2002. Neymar ainda é muito novo para carregar o fardo da decisão. Aos 21 anos, tem as características que podem levá-lo ao topo como jogador, mas ainda está claramente cru para jogos internacionais. Para decidir uma Copa então, parece ainda muito novo.

Historicamente, os jogadores que decidem as Copas do Mundo tem pelo menos 25 anos. Romário tinha 28 anos na conquista do Brasil em 1994. Zidane tinha 25 quando a França foi campeã em 1998. Em 2002, Ronaldo tinha 25 e Rivaldo tinha 30. Em 2006, Fabio Cannavaro tinha 32, Francesco Totti tinha 29 e Andrea Pirlo tinha 27. A Espanha tinha Xavi com 30 e Iniesta com 26. Decidir Copa do Mundo com menos idade é muito raro. Esperar que Neymar, aos 22, faça o que essas estrelas fizeram com mais idade é difícil. Os jogadores brasileiros com idade para fazer esse papel não mostraram condições de fazer isso até aqui. Kaká , 30 anos, e Ronaldinho, 33, podem dar experiência à seleção, mas não se mostraram capazes de serem os protagonistas do time na Copa. E esse é o problema.

O esquema com duas linhas de quatro nos jogos contra Itália e Rússia mostra uma tentativa de uma formação básica, com jogadores no meio-campo que fechem os espaços e joguem quando têm a bola. Um básico que, no Brasil, parece difícil de aplicar. Poucos times jogam assim no Brasil. Precisamente, só um: o Corinthians. Não, o Brasil não tem que usar o Corinthians como base – embora jogar com Ralf e Paulinho seja uma ótima opção para o time titular -, mas falta consistência tática que o alvinegro demonstra. E que chegou com muito treino. O que o Brasil terá muito menos.

Tudo isso para dizer que o time de Felipão deve chegar na Copa e ir, no mínimo, até as quartas de final. Por ser o Brasil, por ter ótimos jogadores, por ser o time da casa… O problema é que isso talvez não seja suficiente para levar a taça. Em um jogo de Copa, eliminatório, em 90 minutos tudo é possível, claro. A Seleção Brasileira precisa aprender a jogar de outras formas que não sejam o contra-ataque. Se depender só do contra-ataque, sem outra opção de jogo, e de lampejos de genialidade de Neymar, não deve ser suficiente. O time pode e precisa de mais.

Felipe Lobo
Felipe Lobo
Jornalista, podcaster e criador de conteúdo. Editor da Trivela antes do Meiocampo. Faz parte do podcast Meiocampo e também é criador do canal Próxima Fase, sobre games. Um apaixonado pela Internazionale desde os tempos de Ronaldo, vive o futebol intensamente desde a Copa de 1994 e trabalha com futebol desde 2009.

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