sexta-feira, março 21, 2025

Mbappé finalmente parece o craque que o Real Madrid queria

O duelo mais badalado da fase de playoffs da Champions League era Real Madrid x Manchester City, por razões óbvias: dois pesos pesados, campeões recentes, times cheios de estrelas. Depois de Vinícius Júnior brilhar na vitória no jogo de ida, no segundo jogo o nome foi um só: Kylian Mbappé, autor de um hat-trick nos 3 a 1 no Santiago Bernabéu. Depois de um início difícil, o francês parece enfim ser o jogador espetacular que se esperava.

A chegada de Mbappé ao Real Madrid foi uma das bolas mais cantadas da história do mercado de transferências. Mbappé é, indiscutivelmente, um dos melhores jogadores do mundo tecnicamente. Só que o seu encaixe no Real Madrid não foi imediato e algumas dificuldades aconteceram ao longo dos primeiros meses.

Vimos vários questionamentos e análises, baseadas em dados, que Mbappé piorou o futebol do Real Madrid. Não era algo infundado e nem sem sentido. Houve uma dificuldade em aproveitar um jogador como Mbappé em um time como o Real Madrid, que tem vários jogadores com a mesma característica.

É onde entra um dos grandes nomes do time espanhol: o técnico Carlo Ancelotti. Poucos técnicos no mundo são tão capazes de encaixar jogadores e formar um time como Ancelotti. Sua flexibilidade tática é um trunfo e ele não se prende a formações, sempre em busca de fazer o time funcionar.

Nem sempre foi assim: ele conta que precisou se adaptar quando viu, como treinador da Juventus, que o seu esquema tático não encaixava o jogador mais talentoso do time, Roberto Baggio. O fracasso dele naquela Juventus fez com que ele repensasse a forma de trabalhar e se tornasse mais flexível, algo que manteve ao longo do tempo e se tornou um trunfo.

Mbappé não gostava de jogador de centroavante, nem no PSG, nem na seleção francesa. Nos dois elencos, ele era o dono do time. No clube parisiense então, ele era quase o dono do clube, tamanho o seu poder. Isso talvez tenha contribuído para que Mbappé tenha se tornado um jogador que contribuía pouco para o coletivo, embora individualmente seguisse como um dos melhores do mundo.

No PSG, Mbappé se sentia maior que o clube – por culpa do próprio clube, que se apequenou diante dos caprichos do seu astro. No Real Madrid, a vida é outra. O clube jamais se dobra a jogadores, nem mesmo aos seus ídolos históricos. É um dos clubes que menos tem apego às suas grandes figuras. A fila em Madri anda rápido.

Talvez por isso Mbappé tenha chegado ao Real Madrid pronto para atuar onde o técnico quisesse. Inclusive de centroavante. Mas Carletto sabe que precisa tentar fazer seus jogadores ficarem satisfeitos e mostrou mais uma vez seu repertório tático para tentar adaptar seus melhores jogadores para atuarem juntos, sem ter que sacrificar nenhum deles, mas com a participação ativa de todos.

A primeira metade da temporada não foi tão boa quanto se imaginava. Muita instabilidade de atuações e resultados tanto em La Liga quanto na Champions League. Os questionamentos foram inevitáveis: o Real Madrid contratou um jogador que não precisava? Vinícius Júnior e Mbappé são incompatíveis? Só um pode jogar pela esquerda?

Aos poucos, porém, essa situação mudou. Mbappé começou a se adaptar. O próprio Ancelotti disse em dezembro que o período de adaptação tinha acabado. E ficou claro que as coisas melhoraram desde então. Não só em números – Mbappé já estava fazendo seus gols até ali –, mas principalmente em desempenho não só individual, mas coletivo.

Ancelotti adaptou o time para jogar com um quarteto de peso: Jude Bellingham, Rodrygo, Vinícius Júnior e Mbappé. Para equilibrar o time sem a bola, Bellingham volta fechando o lado esquerdo e Rodrygo faz o mesmo do lado direito. Vinícius e Mbappé ficam como dois atacantes. Na prática, o time se defende em um 4-4-2. Mas isso, claro, depende também do adversário.

Se por um lado o time tomou outra paulada do Real Madrid na Supercopa do Rei, o time parece cada vez melhor e mais perigoso. O Manchester City pagou essa conta na Champions League. Este segundo jogo, no Santiago Bernabéu, foi um baile. O placar de 3 a 1 saiu até barato diante do que vimos em campo.

Mbappé teve um jogo perfeito e atuando como gosta: com liberdade para se movimentar e com um entrosamento cada vez melhor com Rodrygo e Vinícius, especialmente. Mbappé é um jogador perigoso seja sendo lançado em velocidade, onde é quase imparável, seja recebendo a bola no meio dos marcadores.

Por mais que não goste de ser centroavante e jogar de costas para o gol, o que seria mesmo um desperdício para um jogador como Mbappé, ele tem atuado centralizado e é uma referência no ataque. A diferença é que os companheiros não o procuram com bolas pelo alto ou para que ele faça o pivô, segurando a bola de costas. O procuram para fazer jogadas trabalhadas e para que ele tenha condições de finalizar com a qualidade que nos acostumamos a ver.

É justamente a finalização o ponto que mais chama a atenção de Mbappé. Mesmo não sendo um camisa 9 clássico, ele tem a finalização melhor que a maioria dos centroavantes no mundo. Seu repertório ficou evidente nesse jogo contra o Manchester City. Gol por cobertura, gol fintando o adversário, gol criando a jogada para abrir o espaço para finalização.

Mbappé tem qualidades técnicas raras, que unem velocidade, visão de jogo e uma finalização do mais alto nível. Tecnicamente, provavelmente é hoje o melhor jogador do mundo, ainda que o seu desempenho não tenha sido assim nas últimas temporadas.

A rigor, nem mesmo nessa temporada dá para dizer que ele tem desempenho de melhor do mundo, mesmo com a clara melhora que vemos, a temporada como um todo não foi a ideal. Até porque ninguém está jogando mais que Salah no momento.

Mesmo assim, seus números são excelentes. São 36 jogos até aqui na temporada e 24 gols. Tem tudo para ultrapassar a marca de 30 gols com tranquilidade na temporada, como se tornou habitual pelo PSG.

Isso até agora. Mbappé pode ter um papel crucial e o Real Madrid terminar a temporada levantando a taça da Champions League com ele sendo um nome chave. Isso o tornaria um candidato natural a um prêmio individual. E isso nem é o mais importante: o que ele, Vinícius, Rodrygo e Bellingham podem fazer é algo histórico. E é justamente isso que Mbappé tem falado: quer fazer história.

O que vimos nesse jogo contra o Manchester City são as características que o tornam um dos melhores do mundo. Os indícios que sabemos que ele pode assumir esse papel. Ele quer conquistar o título mais importante que falta à sua coleção, o da Champions League, e não há lugar melhor que o Real Madrid para isso. Conquistar os prêmios individuais será uma consequência se ele atingir os objetivos que ele e o clube desejam.

Para Mbappé, porém, não basta conquistar: ele quer ser um dos protagonistas, como já vimos acontecer em outros dos títulos, como a Copa do Mundo, por exemplo. Hoje o maior destaque do Real Madrid ainda é Vinícius Júnior, por tudo que ele tem feito ao longo dos últimos dois anos e pelo que faz nesta temporada. Mas está claro que Mbappé está alcançando o nível esperado e está se tornando o jogador que todo torcedor do Real Madrid sonhava em ter.

O Real Madrid tem o atual melhor do mundo com Vinícius Júnior, mas pode ter mais do que isso. Mbappé tem potencial para chegar lá e talvez estar entre esses melhores muito em breve. Talvez o Real Madrid consiga o feito que o Barcelona conseguiu em 2010, quando teve os três melhores do mundo naquele ano no seu elenco: Lionel Messi, Andrés Iniesta e Xavi.

O que vemos de Mbappé é algo de outro mundo. E parece cada vez mais letal e pronto a destruir defesas adversárias vestido de branco. Como um certo português fazia anos atrás.

Felipe Lobo
Felipe Lobo
Jornalista, podcaster e criador de conteúdo. Editor da Trivela antes do Meiocampo. Faz parte do podcast Meiocampo e também é criador do canal Próxima Fase, sobre games. Um apaixonado pela Internazionale desde os tempos de Ronaldo, vive o futebol intensamente desde a Copa de 1994 e trabalha com futebol desde 2009.

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