terça-feira, março 11, 2025

Classe média ataca o Big Six

A classe média da Premier League anda com uma estabilidade enorme. E com isso, tem conseguido campanhas que permitem até desbancar clubes do Big Six envoltos em problemas dos mais variados.

O Aston Villa foi o exemplo na temporada passada. Fez uma grande campanha e acabou na Champions League, superando Tottenham e Chelsea, além do cambaleante Manchester United. Na temporada atual, o Nottingham Forest briga no alto da tabela e times como Bournemouth e Fulham estão na disputa por vagas europeias.

Há razões para isso. Em uma liga que se tornou tão rica, os clubes fora do Big Six conseguem atrair talentos de grandes times de outros países e isso nem é uma novidade. Mais recentemente, é possível observar um outro fenômeno: a combinação de estabilidade na primeira divisão, trabalhos de longo prazo e bom mercado de transferências.

Mais do que atrair uma estrela, os clubes estão aprendendo a montar elencos mais completos, mais capazes de brigar no longo prazo. Trazer a estrela de um time do exterior pode ser bom, mas trazer vários jogadores que não são estrelas, mas são competentes para montar um bom time pode ser ainda melhor.

Isso só é possível com um trabalho estável, que mantenha o time na primeira divisão. Clubes como Brentford, Brighton, Fulham e Bournemouth têm conseguido fazer isso.

O Brighton trocou de treinador apenas porque Roberto De Zerbi quis sair, enquanto o Brentford mantém Thomas Frank desde 2018 e o Fulham tem Marco Silva desde 2021. Ainda tem o Bournemouth de Andoni Iraola, no cargo desde 2023, outro clube que consegue um trabalho estável para se manter na primeira divisão.

Esses times estão aprendendo a competir com times mais robustos para encarar a temporada e, ainda que não tenham a mesma profundidade de elenco dos clubes do Big Six, conseguem ser competitivos semana a semana.

Thomas Frank, técnico do Brentford (Reprodução)

Na atual temporada, conseguem ter elencos mais equilibrados que times como Manchester City, Arsenal, Tottenham e Manchester United, que têm times titulares fortes, mas um elenco que nem sempre está à altura para o nível de competição que se espera deles.

Liverpool e Chelsea são exceções, por motivos diferentes. O Liverpool se montou com precisão ao longo dos anos, com muitos acertos e poucos erros no mercado. Tem um elenco hoje que é muito mais completo do que a maioria dos rivais e têm flexibilidade para mudanças.

O Chelsea chegou ao mesmo resultado por um caminho diferente, contratando um enorme número de jogadores e peneirando até chegar ao que tem hoje. Graças também ao bom trabalho do novo técnico, que finalmente parece conseguir extrair bom futebol dos ótimos jogadores que o clube tem.

Os times médios conseguem melhorar o nível e aproveitar as baixas de times como Manchester United, Tottenham e até o Manchester City nesta temporada, mas mesmo isso parece ter um teto.

O Aston Villa está sofrendo com o calendário com Champions League, algo que acontece também com outros times. Os elencos robustos para a Premier League se tornam mais exigidos com as competições internacionais e manter o nível na disputa doméstica se torna um grande desafio. Vimos isso com o Newcastle, anteriormente.

Eventualmente times com essa estabilidade também sofrem, como o Wolverhampton, Everton e Crystal Palace. O Everton viveu um caos nos últimos anos com a gestão de Farhad Moshiri e espera melhorar com o Friedkin Group, o mesmo da Roma; o Crystal Palace tem um dono que quer vender o clube, o Eagle, de John Textor; o Wolverhampton tem sido errático em sua gestão de futebol. Todos eles, porém, são clubes estáveis na primeira divisão e tentando sobreviver a esses momentos de crise administrativa.

É quando a classe média da Premier League passa por esses problemas que fica mais evidente um abismo entre eles e os times que sobem da segunda divisão. Se a Premier League já é muito rica em relação até a grandes ligas de outros países, em relação à sua segunda divisão o abismo também é grande. E os times que sobem têm sofrido para evitar o rebaixamento. Ao mesmo tempo, esses times se tornam fortes demais para a segunda divisão, por vezes aproveitando o dinheiro da passagem na primeira divisão.

Há uma espécie de elite da segunda divisão, que sempre bate à porta da primeira, mas sofre para permanecer por lá. O Leicester é um exemplo: o time caiu da primeira divisão e foi arrasador na segunda. Agora, na sua temporada de retorno, está na zona de rebaixamento e é um grande candidato a cair.

Do outro lado, o Fulham é um exemplo de quem ascendeu de um time iô-iô para ser um clube estável, em parte graças ao ótimo trabalho de Marco Silva à frente da equipe. Uma vez estabilizado na primeira divisão, o time tem conseguido força para se afastar da parte de baixo e deixar mais difícil para novos postulantes a essa situação.

Encontrar uma forma de evitar esse abismo entre primeira e segunda divisão é um grande desafio que a Premier League precisará pensar como resolver. Porque a combinação de dinheiro, estabilidade e competência tem tornado a tarefa de quem está embaixo cada vez mais difícil para entrar nessa roda gigante.

Felipe Lobo
Felipe Lobo
Jornalista, podcaster e criador de conteúdo. Editor da Trivela antes do Meiocampo. Faz parte do podcast Meiocampo e também é criador do canal Próxima Fase, sobre games. Um apaixonado pela Internazionale desde os tempos de Ronaldo, vive o futebol intensamente desde a Copa de 1994 e trabalha com futebol desde 2009.

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