terça-feira, março 11, 2025

Por que o Barcelona contratou Dani Olmo?

O Barcelona está confiante que ainda conseguirá inscrever Dani Olmo no Campeonato Espanhol, apesar de ter perdido o seu segundo recurso nos tribunais. Caso não consiga, pode ficar sem o jogador e sofrer um prejuízo de dezenas de milhões de euros. É potencialmente uma das maiores barbaridades administrativas da história do futebol – e, senhoras e senhoras, é difícil quantificar (ou qualificar) quantas barbaridades administrativas o futebol já viu.

O Barcelona contratou Dani Olmo, do RB Leipzig, por cerca de € 60 milhões sem ter certeza de que conseguiria inscrevê-lo em La Liga. As regras de fair play financeiro da Espanha ficaram famosas quando Lionel Messi chorou em um pódio no Camp Nou, obrigado a abandonar o clube da sua vida porque o cálculo que determina um teto salarial de acordo com as receitas não encontrou espaço para registrar o seu novo contrato.

Elas continuaram famosas porque o Barcelona parece que nunca consegue cumpri-las.

Olmo, um dos destaques da seleção espanhola campeã da Eurocopa, não teria sido inscrito em La Liga se não fosse por uma exceção nas regras que permite aos clubes alocarem 80% dos salários de jogadores machucados por pelo menos quatro meses para outros atletas. Os infortúnios de Ronald Araújo, Andreas Christensen e Marc-André ter Stegen permitiram que Olmo exercesse sua profissão plenamente nos últimos seis meses, com cinco gols em 11 partidas pela liga espanhola.

Araújo retornou em dezembro, Christensen deve fazê-lo em janeiro e apenas Ter Stegen – que ainda levou o Barcelona a contratar e registrar outro jogador, Wojciech Szczesny – provavelmente não retornará até o fim da temporada. A licença excepcional sob a qual Olmo estava registrado expirou em 31 de dezembro. Foi um pedido para que ele e o atacante Pau Victor fossem preventivamente inscritos que os tribunais espanhóis recusaram duas vezes. Ambos foram apagados da lista de jogadores registrados do Barcelona.

Em temporadas passadas, o Barcelona conseguiu lidar com essas regras acionando “alavancas financeiras”, injeções excepcionais de dinheiro que incrementaram suas receitas e abriram espaço para registrar reforços como Robert Lewandowski, por exemplo. Isso foi feito vendendo ativos (como seu braço de mídia), com contratos de patrocínio (os naming rights do Camp Nou) ou comprometendo receitas futuras (seus direitos de transmissão).

Os catalães estão otimistas que a situação será resolvida porque esperam que um novo acordo com a Nike e as vendas de camarotes VIP do novo Camp Nou sejam suficientes para inscrever Olmo e Víctor. No entanto, La Liga alertou que isso não poderia ser feito por “canais normais” porque regras da Federação Espanhola impedem que um jogador seja “des-registrado” e registrado novamente na mesma temporada, segundo o The Athletic, o que aumenta a incerteza da novela.

Se Dani Olmo não for mesmo inscrito, uma cláusula em seu contrato permite que ele fique livre no mercado sem indenizações ao Barcelona. Pelo contrário: o clube ainda teria que bancar o seu salário até 2030, um valor total de aproximadamente € 50 milhões, e a taxa de transferência, normalmente amortizada ao longo dos anos do contrato, entraria de uma vez só na contabilidade da atual temporada – deixando o Barça com as mãos ainda mais atadas em um futuro próximo.

Dani Olmo com a camisa do Barcelona (divulgação)

A pergunta mais importante aqui, no entanto, não é se o Barcelona conseguirá inscrever Dani Olmo. É por que o Barcelona contratou Dani Olmo.

Ninguém aprova vender o jantar para pagar o almoço como o Barcelona fez em 2022, quando acionou aqueles alavancas financeiras, e houve vários questionamentos, mas pelo menos dava para justificar que um elenco que passou tanto tempo dependendo da perna esquerda de Messi precisava de uma renovação, de novos líderes técnicos, de uma roupagem diferente para a próxima era.

Não era o caso quando Olmo foi contratado, e a principal evidência que temos para apresentar aos jurados é que ele foi o único reforço relevante do mercado, e para uma posição em que Hansi-Flick poderia usar Pedri ou Gavi adiantados ou Raphinha centralizado.

Dani Olmo é um bom jogador? Não. É ótimo. Ele torna o Barcelona mais forte? Claro. A temporada seria pior se os minutos de Olmo fossem dados a Fermín López? Provavelmente. Mas muito pior? Pior o bastante para assumir o risco de uma contratação que talvez não fosse inscrita? Pior o bastante para arriscar um prejuízo tão grande? Pior o bastante para se colocar em uma situação constrangedora como essa? Claro que não. Não era uma necessidade urgente, mas o Barcelona não fez esse cálculo. Poucos dirigentes fazem, poucos clubes fazem.

O Barcelona contratou Dani Olmo porque estamos em um momento do futebol europeu em que parece inconcebível simplesmente não fazer uma contratação. Porque a roda midiática precisa girar, e as redes sociais precisam de conteúdo, e os torcedores querem reforços porque reforços são divertidos ou simplesmente porque é assim os clubes estão sendo geridos hoje em dia e quem sou eu para fazer diferente. Se a contratação é necessária e/ou se o clube consegue pagar por ela são apenas alguns dos fatores considerados – e muitas vezes parecem os menos importantes.

É até engraçado lembrar de quando existia a falsa dicotomia de que o Real Madrid era um clube que comprava e o Barcelona era um clube que formava. Isso nunca foi verdade, não da maneira como as pessoas imaginavam, e faz tempo que não dá nem mais para fingir que é, embora o elenco catalão realmente esteja (neste momento) repleto de pratas da casa. Mas eles deveriam justamente dissuadir os dirigentes de cometer loucuras como a contratação de Dani Olmo pode acabar se tornando.

Bruno Bonsanti
Bruno Bonsanti
Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de ser redator, editor e sócio na Trivela. Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.

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