quarta-feira, março 12, 2025

Lopetegui e Dyche movimentam ciclo de demissões na Inglaterra

Julen Lopetegui chegou com a banca de ser alguém para mudar o quadro do West Ham. Conhecido pela sua mentalidade de jogo ofensivo, ele teria a missão de suceder a David Moyes para melhorar a qualidade de futebol dos Hammers.

O que se viu foi um time que não conseguiu ter bom desempenho em praticamente nenhum momento. Lopetegui foi demitido depois de 22 jogos, o que o torna o técnico a ficar menos tempo no comando do West Ham nos 124 anos de história do clube. Um feito. E olha que a sensação foi de que ele durou até muito. Por pouco ele não foi demitido ainda em novembro.

Lopetegui perdeu nove dos 20 jogos de Premier League que fez e a torcida do próprio West Ham cantava “You’re getting sacked in the morning” para o treinador após a derrota por 4 a 1 para o Manchester City, um canto que é normalmente usado pela torcida adversária para tirar um barato.

Lopetegui fez bons trabalhos na seleção sub-21 da Espanha e no Porto, antes de ser chamado para ser treinador da seleção espanhola, em 2016. Dirigiu o time até dias antes da estreia na Copa de 2018, quando acabou demitido pelo anúncio de que seria treinador do Real Madrid depois do torneio.

Sua passagem pelo Real Madrid foi um fracasso previsível, com apenas 14 jogos no comando antes de ser demitido. Assumiu o Sevilla em 2019, onde conseguiu ir bem em um clube organizado e que tem dado condições excelentes para seus treinadores. Não por acaso muitos deles conseguem em Sevilha seu melhor trabalho em anos.

Quando deixou o Sevilla para assumir o Wolverhampton, foi um salto de fé do clube inglês. Que não deu certo. Após 27 jogos, ele também foi demitido. Sua escolha no West Ham, em maio de 2024, já era questionável.

Ele parece um treinador supervalorizado pelos seus feitos, com seus defeitos minimizados. Os bons trabalhos já são minoria na sua trajetória. O Sevilla é o único de longo prazo, com três anos no comando dos rojiblancos.

O West Ham escolheu Graham Potter como substituto de Lopetegui. O técnico inglês estava sem trabalhar desde que foi demitido do Chelsea, em abril de 2023, depois de apenas sete meses no cargo em Stamford Bridge.

Potter é uma escolha interessante, com um histórico bom no Östersund e no Brighton. O Chelsea é um clube que oferece poucas condições de trabalho e o próprio Potter não conseguiu se adaptar ao caótico ambiente por lá.

Terá uma nova chance de mostrar sua capacidade em um clube tradicional e que tem elenco para ir além da briga contra o rebaixamento que ameaçou sob o comando de Lopetegui.

De volta para o futuro

Sean Dyche deixou o cargo no Everton (reprodução)

Mais ao norte da Inglaterra, o Everton perdeu a paciência com Sean Dyche e demitiu o treinador. Não foi uma surpresa. Nesta semana, o próprio Sean Dyche disse à nova direção do Everton que levou o time o mais longe que poderia e que seus métodos não pareciam mais ter o mesmo impacto. Ele não se demitiu, mas deixou o terreno pronto para a direção fazer isso. E fizeram.

O curioso é que os novos donos do Everton pensam justamente em uma volta ao passado para tentar resolver os problemas do clube. O nome que liga as duas histórias de demissão de técnico nesta semana: David Moyes. Mas voltaremos a ele mais adiante.

O Everton vive uma crise financeira e por anos persistiram especulações sobre a sua venda. Ela finalmente se concretizou em dezembro, quando The Friedkin Group (TFG), donos da Roma, assumiram o comando dos Toffees. Os proprietários preferiam manter o técnico até o fim da temporada antes de pensar em mudança, mas as circunstâncias fizeram com que tomassem outra decisão.

Dyche foi uma escolha que fez sentido para o Everton. O técnico se especializou em um estilo de futebol rústico, que caracterizou o seu Burnley por anos, adequado à briga contra o rebaixamento que o Everton vivia. Mas a fórmula, ainda que tenha funcionado antes, parecia desgastada.

O Everton vive mais uma briga contra o rebaixamento. Está apenas um ponto acima do Ipswich, primeiro time dentro da zona de descenso. E este é um ponto crucial para entender a busca pelo substituto.

Uma opção seria Graham Potter. Seu estilo de jogo o tornaria uma opção popular, mas à medida que a negociação caminhou, os dirigentes hesitaram. Potter teria que trabalhar em uma situação muito específica, uma luta contra o rebaixamento que pode ser brutal para o clube se acabar mal. Não parecia o ambiente ideal.

David Moyes surge como favorito para retornar ao clube onde esteve por 11 anos, de 2002 a 2013. O escocês foi demitido pelo West Ham ao final da temporada passada justamente por oferecer apenas mais do mesmo. Se o seu estilo conservador foi uma das razões da sua saída do time de Londres, essa pode ser uma razão para sua contratação em Goodison Park.

Moyes não é um treinador criativo e ofensivo como Graham Potter, mas tem mais recursos na manga que Sean Dyche, competente no que faz, mas que não tem outro estilo. Moyes pode ser um técnico da velha guarda, mas é alguém que conhece a Premier League, o clube e sabe o tamanho do desafio.

Conhecido por uma boa gestão de grupo, Moyes é uma escolha segura para os novos donos do Everton. Eles podem trazer até uma nova mentalidade, mas às vezes olhar o passado e garantir um pouco do que deu certo antes também pode ser um caminho. Certamente parece o mais seguro, em um momento tão delicado da história do Everton.

Graham Potter chegou para substituir Julen Lopetegui, que tinha sido contratado para substituir David Moyes, que agora pode substituir Sean Dyche. É o ciclo de treinadores que se fecha na Premier League.

Felipe Lobo
Felipe Lobo
Jornalista, podcaster e criador de conteúdo. Editor da Trivela antes do Meiocampo. Faz parte do podcast Meiocampo e também é criador do canal Próxima Fase, sobre games. Um apaixonado pela Internazionale desde os tempos de Ronaldo, vive o futebol intensamente desde a Copa de 1994 e trabalha com futebol desde 2009.

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