O mercado de transferências de inverno não é aquele em que os clubes europeus mais gastam. A janela de meio de temporada serve mais para corrigir rotas e preencher lacunas. De qualquer maneira, estas semanas foram particularmente movimentadas em diversos países – seja por clubes de peso em crise, seja pela oportunidade aberta a outros darem um salto. Somando as cinco grandes ligas europeias, o investimento em novos jogadores superou a marca de €1,1 bilhão. Na temporada passada, por exemplo, a mesma cifra mal passou dos €700 milhões. Premier League, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga incrementaram seus gastos, enquanto só La Liga reduziu o sarrafo em relação a janeiro de 2024.
Para fazer um balanço da janela, listamos abaixo dez clubes europeus que se destacaram neste mercado. A seleção foi realizada a partir do conjunto de mais de uma movimentação, e não necessariamente de contratações específicas – por isso acaba de fora o Paris Saint-Germain, por exemplo, mesmo trazendo um talento do quilate de Khvicha Kvaratskhelia. A lista, além do mais, não se restringe às cinco grandes ligas. Confira:
Aston Villa
Manchester City
O Manchester City atuou na base do desespero na atual janela de transferências e gastou mais de €200 milhões em compras, independentemente dos temores de punições sobre o clube. São jogadores que podem auxiliar no meio da quizumba atual no Estádio Etihad, mas que não são necessariamente soluções imediatas. Projetam ao futuro, todos jovens e com potencial. Omar Marmoush é quem deve ter maior impacto imediato, até pela excelente fase no Eintracht Frankfurt. Pode se encaixar de diferentes maneiras no setor ofensivo e tenta mostrar suas credenciais nos primeiros jogos. Nico González também vem respaldado do Porto, para auxiliar com as lacunas no meio-campo dos Citizens. Já a defesa ganhou três peças sub-20 de uma só vez: Abdukodir Khusanov, Vítor Reis e Juma Bah. A ver como de fato eles se desenvolverão com Pep Guardiola. De qualquer maneira, o norte não parece ser exatamente o agora, mesmo que o elenco curto explique parte dos problemas atuais.
Milan
O Campeonato Italiano atravessou um inverno abastado. Pode não ter alcançado metade dos gastos da Premier League, mas a Serie A teve vários times que se movimentaram com astúcia neste inverno. O Milan puxa o carro, ainda que muitos dos negócios corrijam a rota de uma temporada oscilante. Santi Giménez custou €32 milhões e parece pronto a assumir o comando de ataque, o que até liberou Álvaro Morata emprestado para o Galatasaray. João Félix ganha sua enésima chance ao chegar por empréstimo e já deixou boa impressão, enquanto Warren Bondo é uma jovem aposta para o meio-campo, comprado do Monza. Ainda vieram o ponta Riccardo Sottil, da Fiorentina, e Kyle Walker, do Manchester City. Por aquilo que o lateral apresentou em sua estreia, contra a Internazionale, seu empréstimo talvez seja o melhor negócio desta janela em termos de custo-benefício. Cabe dizer que os rossoneri viram diversos jogadores tomarem outros rumos: além de Morata, também saíram figuras como Ismaël Bennacer e Davide Calabria, importantes no último Scudetto do clube.
Fiorentina
A Fiorentina mira a classificação para a Champions League com um elenco no qual chegaram vários destaques no início da temporada, assim como o técnico Raffaelle Palladino é novidade. Agora, a capacidade competitiva da Viola se encorpa mais com a ampla lista de contratações do inverno, que visa também a empreitada na Conference League – na qual os italianos são a principal ameaça ao favorito Chelsea. Cher Ndour é a mais cara contratação definitiva, vindo do PSG por €5 milhões. Aos 20 anos, o meio-campista já demonstrou seu potencial nas seleções italianas de base. Figurinhas da Azzurra principal também chegaram por empréstimo, em pacote que integram Michael Folorunsho, Nicolò Fagioli e especialmente Nicolò Zaniolo – ainda em busca de se reencontrar na carreira, após seis meses na Atalanta. Já a defesa contará com o experiente Pablo Marí, que agradou no Monza e criou boa relação com Palladino. Em contrapartida, muita gente saiu do Artemio Franchi, inclusive o ex-capitão Cristiano Biraghi, que perdeu espaço e foi emprestado ao Torino.
Como
O Como é uma grata surpresa desta Serie A. O time dirigido por Cesc Fàbregas apresenta um futebol bem trabalhado e corajoso, que merece a permanência na elite, apesar dos riscos seguirem evidentes. Com os donos mais ricos do Campeonato Italiano, o clube gastou mais do que qualquer concorrente da liga, com €49,2 milhões investidos em novatos – mais de 20% do montante total da competição neste inverno. O perfil geral também agrada, com muita gente abaixo dos 25 anos. É o caso do meio-campista Maxence Caqueret (Lyon) e do centroavante Anastasios Douvikas (Celta), as duas compras mais caras. Chegou gente ainda mais jovem, em especial o ponta Assane Diao, que veio do Betis já fazendo barulho. Também há uma dose de rodagem com outras peças, diante do empréstimo de Jonathan Ikoné e principalmente da contratação sem custos de Dele Alli. O inglês estava sem clube e tentará recuperar seu futebol nas paradisíacas margens do lago.
Olympique de Marseille
Se o início do trabalho de Roberto De Zerbi no Vélodrome já rendeu bons momentos, a tendência é de que melhore com as compras de inverno. O Olympique pode não ter trazido um Kvaratskhelia, mas os €26 milhões recebidos na venda de Elye Wahi foram otimamente investidos. A defesa agora possui o zagueiro Luiz Felipe, resgatado sem custos do Al-Ittihad, e o lateral Amar Dedic, promessa do Red Bull Salzburg. No meio-campo, Ismaël Bennacer quis se mudar à Marselha e o empréstimo junto ao Milan é ótimo. Já o ataque garantiu Amine Gouiri, subaproveitado no Rennes e com uma qualidade técnica inegável, que justifica os €19 milhões da compra. Soa como um planejamento já cogitando a Champions League à vista no horizonte para a próxima temporada.
Rennes
A temporada do Rennes é decepcionante, de quem tem elenco para brigar por Champions e se vê sob risco de rebaixamento. Jorge Sampaoli durou só dez partidas e Habib Beye assumiu como terceiro treinador distinto nesta campanha. Conta com muita gente nova para trabalhar, em contratações que totalizaram €74,6 milhões, abatidos parcialmente por vendas como as de Amine Gouiri e Arthur Theate. De olho no sucesso recente do Lens, os rubro-negros garantiram a qualidade do goleiro Brice Samba e do meio-campista Seko Fofana – este trazido do Al-Nassr, por €20 milhões, transação mais cara. O ataque, por sua vez, ganha duas ótimas alternativas asiáticas: o centroavante Kyogo Furuhashi, antigo xodó na legião japonesa do Celtic, e o ponta Mousa Tamari, tirado do Montpellier após ganhar os holofotes com a Jordânia. Outro selecionável, o volante Ismaël Koné, precoce no Canadá, veio por empréstimo do Olympique de Marseille. A zaga ainda terá Anthony Rouault, de 23 anos, que volta ao país de nascimento após estourar com o Stuttgart.
Eintracht Frankfurt
A Bundesliga não é a competição que mais gasta no inverno e não seria diferente dessa vez. Mais de um quarto do total investido pela liga representa a compra definitiva de Xavi Simons pelo RB Leipzig. Dos que buscaram novas peças, o Eintracht Frankfurt é de longe quem mais chama atenção, e com motivos. Dos €75 milhões ganhos pela saída de Marmoush, €42 milhões foram usados para contratar três novos jogadores. O ataque terá logo de cara dois novos nomes: Michy Batshuayi é o veterano, após sua empreitada recente na Turquia, e a aposta se concentra em Elye Wahi. O francês de 22 anos surgiu bem no Montpellier e teve bons momentos no Lens, mas sem reproduzir as marcas no Olympique de Marseille. Ainda assim, custa €26 milhões. Já a defesa ganha de vez o zagueiro Arthur Theate, comprado em definitivo após seis meses de empréstimo, cedido pelo Rennes.
Fenerbahçe
O Campeonato Turco gosta de medalhões e o inverno foi prolífico por lá. Várias figurinhas carimbadas se juntaram aos gigantes da Süper Lig. O desempenho do Fenerbahçe, aquém do esperado com José Mourinho, provocou semanas abastadas. Milan Skriniar e Diego Carlos dão muita casca para o miolo de zaga. Dois jogadores na casa dos 30 anos, que brilharam nas grandes ligas, embora com o passado recente assombrado pelas lesões. O eslovaco desembarcou por empréstimo do PSG, enquanto o brasileiro custou €10 milhões junto ao Aston Villa. Mais um do Brasil a se juntar aos Canários é Anderson Talisca, que deixou o Al-Nassr sem custos e retoma a história num país em que agradou pelo Besiktas. Por fim, o lateral Ognjen Mimovic, de 20 anos, vem como revelação do Estrela Vermelha. Ainda na Turquia, menções honrosas às adições de Galatasaray (Carlos Cuesta, Álvaro Morata, Mario Lemina, Ahmed Kutucu) e do Trabzonspor (Danylo Sikan, Oleksandr Zubkov).
Betis
O Campeonato Espanhol atravessou um inverno austero. La Liga ficou no assombroso 16° lugar entre as competições nacionais que mais gastaram nesta janela, atrás até do Campeonato Belga e da segundona da Bundesliga. A mão fechada do Real Madrid mesmo com o departamento médico cheio e os imbróglios todos do Barcelona representam bastante, em meio ao cenário impactado pelas estritas regras do Fair Play Financeiro local. Do pouco que aconteceu, o Betis merece os holofotes. Metade do dinheiro gasto pela liga inteira saiu dos cofres dos verdiblancos: €13 milhões pelo atacante Cucho Hernández, de volta à Espanha após muitos gols no Columbus Crew. Antony também veio por empréstimo, fazendo logo em sua estreia muito mais do que apresentara na temporada pelo Manchester United até então. E foi isso. Menções honrosas aos negócios de Valencia (Umar Sadiq, Max Aarons, Iván Jaime) e Villarreal (Tajon Buchanan, Juan Bernat).