terça-feira, março 11, 2025

Botafogo, Brasileirão e Mundial: é o calendário, estúpido

Em 1992, James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton, cunhou a frase “The economy, stupid” como um dos focos para eleger o democrata à Casa Branca. Funcionou e a frase, adaptada para “It’s the economy, stupid” se tornou conhecida para apontar o ponto mais importante quando se fala de política.

No futebol brasileiro, temos algo similar. O Botafogo perdeu do Pachuca no Mundial de Clubes em algo que se tornou comum ao futebol brasileiro. O novo formato do torneio, agora chamado de Intercontinental, fez com que o Botafogo caísse nas quartas de final. A derrota tem um aspecto que é fundamental para olharmos para o futebol brasileiro: o calendário.

Em 12 dias, o Botafogo fez a final da Libertadores, jogou duas partidas do Campeonato Brasileiro e disputou as quartas de final do Intercontinental. Saiu com duas taças, as mais importantes, e uma derrota amarga, que se tornou padrão do futebol sul-americano.

As discussões sobre nível técnico do futebol brasileiro frente a outros campeões continentais é relevante, mas fica pra outro dia. O mais relevante aqui é entender que o time sul-americano chega em frangalhos para o Mundial, o que torna suas chances de sucesso ainda menores.

O desgaste físico e mental não explica sozinho por que o Botafogo tomou um 3 a 0 do Pachuca, mas ajuda a entendermos que a diferença não é tão grande quanto o placar e o segundo tempo da partida fizeram parecer. É indiscutível que o calendário pesa.

É um assunto repetido e irritante, o que é uma característica do futebol brasileiro. De todos os problemas do futebol brasileiro, o calendário é o mais grave. O que vimos no Mundial é parte desse reflexo.

O Botafogo chegou a 75 jogos em 2024 no duelo com o Pachuca, que fez 49 no mesmo período. Não há milagre, ainda mais quando falamos em jogar três dias depois de conquistar o título brasileiro, em outro continente, com uma viagem de 15 horas nas pernas.

Em 2025, o Campeonato Brasileiro vai até o dia 21 de dezembro. O Intercontinental acontecerá em meio às últimas rodadas. Se um clube brasileiro vencer novamente a Libertadores, o que acontece desde 2019, terá que jogar as últimas rodadas da liga nacional com reservas ou um time sub-20. Parece razoável?

Todos nós sabemos onde está o problema do calendário. Dá para mexer na Copa do Brasil, fazer com que seja jogo único e economizar algumas datas. Nada resolveria tanto quanto reduzir drasticamente os estaduais ou mesmo torná-lo o que ele é: um torneio regional para clubes sem divisão que dá acesso a divisões nacionais. Uma Série E.

Para isso, seria preciso mudar toda a lógica que sustenta o presidente da CBF no seu cargo. Só uma liga de clubes seria capaz de romper essa lógica, mas essa chance foi perdida nas discussões que criaram Libra e LFU como dois blocos inúteis para vender direitos de transmissão.

Enquanto esses dois grupos brigam por questões muito mais de poder do que de razoabilidade, o futebol brasileiro segue afogado em um calendário inviável. Sorri o presidente da CBF, que mantém seu poder com as federações e ainda controla o Campeonato Brasileiro, já que os clubes ruíram a chance de uma liga para resolver os problemas para além dos direitos de TV.

Tem gente que adora usar a expressão “o futebol respira”. No caso, o futebol brasileiro respira, mas por aparelhos. É o calendário, estúpido.

Felipe Lobo
Felipe Lobo
Jornalista, podcaster e criador de conteúdo. Editor da Trivela antes do Meiocampo. Faz parte do podcast Meiocampo e também é criador do canal Próxima Fase, sobre games. Um apaixonado pela Internazionale desde os tempos de Ronaldo, vive o futebol intensamente desde a Copa de 1994 e trabalha com futebol desde 2009.

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