Esgotado
Manchester City 2×3 Real Madrid
Quando o jogo começou, a primeira coisa que eu pensei é que, se o Crystal Palace causou problemas colocando a bola nas costas do Manchester City, imagina um time com Vinicius Jr. e Kylian Mbappé. Foi logo depois do brasileiro acertar um drible no meio-campo e lançar o francês em velocidade pela direita para uma boa defesa de Ederson. Mas os ingleses conseguiram se estabilizar, depois de abrir o placar com um gol que nos lembrou que, apesar de tudo, existe muita qualidade nesse time, e chegaram ao intervalo em vantagem. A faca estava nos dentes do Real Madrid no começo do segundo tempo. Mbappé empatou com um voleio estranho e a pressão era forte. De repente, pênalti, e o City passou à frente. Era só aguentar dez minutos. Seria um divisor de águas? Será que as coisas finalmente começariam a dar certo? Não. Porque essa interpretação do Manchester City tem uma falha fatal: uma hora eles entregam. Dê uma olhada em todas as derrotas chocantes da pior temporada da carreira de Pep Guardiola e sempre há alguém errando a saída de bola, sendo desarmado no campo de defesa ou dormindo na marcação. E simplesmente não dá para fazer isso contra um Real Madrid que construiu grande parte do seu sucesso recente punindo exatamente esse tipo de coisa. Poucas vezes eu vi um time tão esgotado mentalmente.
Isso que dá não ficar entre os oito primeiros
Celtic 1×2 Bayern de Munique
Não sei qual era o plano de jogo de Brendan Rodgers para enfrentar o Bayern de Munique. Qualquer que fosse, provavelmente não incluía deixar Harry Kane sozinho na segunda trave em uma cobrança de escanteio. Completamente livre, Kane dobrou a vantagem bávara no começo do segundo tempo com uma ótima finalização de primeira. Como Kasper Schmeichel, cujo pai participou de uma noite mais ou menos memorável contra o Bayern em 1999, estava fazendo grandes defesas, ótimas finalizações eram mesmo necessárias para superá-lo, como a de Michael Olise que havia aberto o placar. Um gol um pouco menos bonito quando você percebe que ele errou o domínio e deu sorte de a bola bater no joelho de Greg Taylor. O Bayern era favorito para avançar, e agora é super favorito, mas o destino entregou um exemplo muito claro da vantagem de avançar entre os oito primeiros da fase da liga. Enquanto o Bayer Leverkusen descansou e se preparou para um confronto direto crucial pela Bundesliga, o Bayern viajou a Glasgow (em janeiro) para uma partida mais difícil do que se imaginava. Ou que pelo menos continuou sendo uma partida até os minutos finais e o impediu de tirar completamente o pé do acelerador.
A estrela de um time sem estrelas
Brest 0x3 PSG
Estamos acompanhando uma amostra do que poderia ter sido a carreira de Ousmane Dembélé sem tantas lesões. Em um Paris Saint-Germain menos estrelado e mais dependente de pratas da casa, franceses e jovens com potencial, um Paris Saint-Germain mais legal de assistir que os anteriores, ele assumiu o protagonismo e chegou a 23 gols em 28 partidas nesta temporada com os dois que anotou contra o Brest. Pelo menos houve isso em um confronto que não era o mais palpitante da repescagem. O Brest começou a Champions League com 10 pontos em quatro rodadas, um pouco fruto da ordem dos jogos porque as vitórias vieram contra Sturm Graz, Red Bull Salzburg e Sparta Praga. O empate foi contra o Bayer Leverkusen, um ótimo resultado sem nenhuma ponderação. Mas quando a meia-noite bateu, ela bateu com força. Não dava para esperar muita coisa contra Barcelona e Real Madrid e o sorteio lhe foi bastante cruel. De qualquer maneira, no geral foi uma campanha legal para um estreante em competições europeias. E ainda não acabou, né, vai saber.
Instável
Feyenoord 1×0 Milan
O que diabos aconteceu com Rafael Leão, craque de uma temporada da Serie A que agora fica cara a cara com o goleiro e não sabe o que fazer? Tivemos outra ilustração da instabilidade do Milan porque a derrota para o Feyenoord também contou com falha do geralmente seguro Mike Maignan. Kyle Walker, outro dia um dos melhores laterais do mundo, sofreu com Igor Paixão, que anotou o primeiro gol em jogada individual e depois acertou o travessão com uma movimentação parecida. O grande pecado do começo de trabalho de Sérgio Conceição havia sido a derrota para o Dínamo Zagreb que impediu os italianos de passarem entre os oito primeiros. E considerando que o Feyenoord trocou de treinador na segunda-feira, provavelmente insatisfeito por, entre outras coisas, levar 6 a 1 do Lille, o favoritismo no confronto era claro. Agora, o Milan precisará dar algumas respostas no San Siro para não expandir demais a confissão do seu treinador.
A nova Velha Senhora
Juventus 2×1 PSV
Faz algumas semanas que a Juventus tomou a decisão de parar de empatar todos os seus jogos, o que em um primeiro momento pareceu controverso porque perdê-los não parecia muito melhor. Mas um time jovem e promissor treinado por um treinador jovem e promissor está fadado a altos e baixos e fevereiro parece ser um mês de altos. Não era garantia que derrotaria um PSV que ainda briga ponto a ponto pelo título holandês com o Ajax, apesar de apenas duas vitórias nas últimas sete rodadas. E não foi mesmo porque Perisic, que às vezes passa a sensação que jogará até os 58 anos de idade, empatou depois de McKennie abrir o placar com um golaço. Foi Samuel Mbangula, uma das revelações da temporada e símbolo da renovação da Velha Senhora, quem permitiu que a Juventus levasse a vantagem para Eindhoven na semana que vem.
O Borussia Dortmund é estranho
Sporting 0x3 Borussia Dortmund
Que time estranho é o Borussia Dortmund. Nos primeiros 35 minutos, pareceu que o Sporting estava encantado de enfrentar um sistema defensivo mundialmente famoso por sua irregularidade. Exigiu diversas defesas de Kobel, uma delas com o antebraço, e acertou o travessão. Mas Serhou Guirassy tem faro de artilheiro e aparentemente visão de jogo porque também encontrou Pascal Gross com um cruzamento perfeito. Karim Adeyemi fechou o placar em contra-ataque e, de repente, uma partida que começou complicada terminou com o Dortmund próximo das oitavas de final. O vice-campeonato europeu na última temporada compensou uma campanha fraca em âmbito nacional e, em 11º lugar na Bundesliga, talvez outro seja necessário. E é difícil encontrar um caso mais claro em que a saída de um treinador descarrilou a temporada. O mesmo time do Sporting que escancarou a crise do Manchester City ganhou apenas sete jogos (no tempo normal) desde a saída de Rúben Amorim para o Manchester United em novembro.
Mais do que um susto
Club Brugge 2×1 Atalanta
O Club Brugge deu um susto no Manchester City e parecia que daria outro na Atalanta quando Ferran Jutglà, cujo nome não esconde sua origem em categorias de base da Catalunha, dominou na entrada da área e bateu sem deixar a bola cair. Um gol de centroavante de alto nível. E ainda parecia apenas um susto quando Pasalic empatou no final do primeiro tempo. Mas os belgas voltaram do intervalo mais perigosos e quase fizeram o segundo com um chute cruzado de De Cuyper que passou rente à trave. A Atalanta exigiu boas defesas de Mignolet e criou uma ótima chance desperdiçada por Samardzic. Nos minutos finais, porém, o árbitro marcou um daqueles pênaltis que você olha o replay várias vezes perguntando “que que ele marcou aqui?”. Um pênalti que levou Gasperini a tirar o casaco, nos 6º Celsius de Bruges, e abandonar o gramado. As imagens mostraram que a mão direita de Isak Hien meramente encostou no rosto de Gustav Nilsson, então também foi um daqueles pênaltis que você precisa querer muito dar. O próprio Nilsson converteu e impôs muito mais do que apenas um susto à Dea, que parece não ter tido um bom Réveillon – ou teve um Réveillon bom demais: apenas três vitórias desde 28 de dezembro.
Faltou mentalidade assassina
Monaco 0x1 Benfica
Estatísticas mentem o tempo inteiro, mas quando um time dá seis finalizações no primeiro tempo e 17 no segundo, tem 38% de posse de bola antes do intervalo e 71% depois, dá para deduzir que alguma coisa mudou. A expulsão de Al Musrati por reclamação, que deixou a turma do Monaco possessa, é a principal suspeita. Mas àquela altura o Benfica já havia aberto o placar com a prevalência física de Pavlidis sobre Salisu e um toque de classe na saída do goleiro Radoslaw Majecki. Como os portugueses tiveram um jogador a mais por 40 minutos, o resultado pareceu pior para eles do que para o time que perdeu em casa. Adi Hütter, treinador do Monaco, elogiou a atuação da sua equipe em inferioridade numérica e disse que o confronto continua aberto. O que é verdade. Bruno Lage, comandante das Águias, queria mais um gol, afinal de contas, quem não quer mais um gol, e disse que faltou mentalidade assassina aos seus jogadores. Ele provavelmente falou metaforicamente. Espero.