Neymar é um jogador fora de série. Seu talento é inegável – o melhor brasileiro de sua geração. E, ainda assim, sempre pairou a sensação de que ele poderia ter ido além. Seu iminente retorno ao Santos representa um conto de fadas. Ou melhor, o conto de fadas possível.
Esqueça comparações com as voltas de Romário e Ronaldo Fenômeno ao Brasil. Elas são descabidas. Romário retornou aos 28 anos, no auge, como campeão do mundo e melhor jogador da Copa de 1994. Ronaldo, além de um currículo recheado de títulos – incluindo a Copa de 2002 como artilheiro –, lidava com graves problemas físicos. Neymar está em uma situação completamente diferente.
O atacante ainda sonha em conquistar a Copa do Mundo que Romário e Ronaldo ganharam. O retorno ao Brasil pode ajudá-lo nisso, desde que lhe ofereça algo que faltou nos últimos anos: sequência de jogos. Porque em campo, Neymar sempre entregou. Foi assim por toda a sua carreira.
Aos 32 anos, prestes a completar 33, Neymar já conquistou tudo na Europa. Seus anos no PSG por vezes fazem as pessoas esquecerem o que ele fez antes. Em 2014/15, ele foi peça-chave na tríplice coroa do Barcelona, vencendo Copa do Rei, Campeonato Espanhol e Champions League. No torneio europeu, terminou como artilheiro ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo, marcando gols decisivos de forma impressionante.
Sua escolha de ir para o PSG, em 2017, foi amplamente contestada. O Campeonato Francês, sem dúvidas, é o menos atraente entre as cinco grandes ligas. Ele garante que não foi pela chance de ser o melhor do mundo como protagonista do time – até porque acabou dividindo os holofotes com Kylian Mbappé desde o primeiro ano.
Tecnicamente, Neymar manteve um nível altíssimo na França. O problema é que nem sempre esteve em campo. Aliás, nunca conseguiu disputar mais de 30 jogos em uma temporada pelo PSG. As lesões se tornaram frequentes – e, por vezes, até anedóticas –, sempre na segunda metade do calendário, nos momentos mais decisivos do clube. Virou meme o aniversário da irmã em fevereiro e o craque no Brasil de muletas no Carnaval, enquanto o PSG sofria na Champions.
Não por acaso, no único ano em que jogou até o fim, o PSG chegou à final europeia, em 2020, e perdeu para o Bayern de Munique em um jogo equilibrado. O problema é que, para os parisienses, o sucesso da temporada dependia exclusivamente da Champions League. E isso Neymar não conseguiu entregar.
Nem mesmo quando formou o trio dos sonhos com Messi e Mbappé – no qual, aliás, foi o mais sacrificado taticamente, correndo mais para compensar os companheiros. Ainda assim, seus números são excelentes: 173 jogos, 118 gols e 77 assistências pelo PSG. Mas a questão sempre foi a mesma: desde sua chegada ao clube, somou 207 partidas ausente por lesão, seja em Paris, seja no Al Hilal. É um número absurdo. Ele nunca disputou mais do que 22 rodadas numa mesma edição da Ligue 1 desde que chegou à França.
Havia a expectativa de que Neymar assumiria o posto de herdeiro de Messi e Cristiano Ronaldo, mas isso nunca aconteceu. Seu declínio coincidiu com o dos dois astros. Na Arábia Saudita, as lesões continuaram e sua passagem pelo Al Hilal se resumiu a sete jogos e um gol.
Agora, Neymar volta ao Santos como o filho pródigo, mas também como um jogador em busca de redenção. Não terá o mesmo brilho da juventude, mas pode reescrever sua história.
O retorno ao Brasil é uma boa notícia, inclusive para a Seleção Brasileira. Ainda que, a princípio, seja por apenas seis meses, essa volta pode ser benéfica para ele, para o futebol brasileiro e para sua reintegração à Seleção.
Vimos algo semelhante com Lucas Moura. Ele voltou ao Brasil inicialmente por um curto período, mas, ao ser abraçado pela torcida, se destacar em campo e conquistar títulos, decidiu ficar. Também porque não recebeu propostas de grandes clubes europeus, como esperava.
Talvez o mesmo aconteça com Neymar. Ele quer voltar à Europa, mas tudo dependerá de receber propostas relevantes. Se elas não surgirem, seguir no Santos até a Copa de 2026 pode ser o caminho mais lógico.
Se conseguir manter a forma física, Neymar tem tudo para dominar o futebol brasileiro. Talvez não com a mesma explosão e juventude de 2010 a 2013, mas com inteligência e genialidade como criador de jogadas. Sua presença tornará o campeonato mais atraente e pode ajudá-lo a chegar à Copa na melhor condição possível.
Neymar ainda tem idade para conquistar um Mundial. Mesmo com todos os problemas da Seleção – do técnico à presidência –, em uma Copa do Mundo tudo pode acontecer.
Seu retorno ao Brasil pode, sim, ser um conto de fadas para o torcedor – e para Neymar, se ele souber aproveitar. O conto de fadas possível.